SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Informações extraídas de 5 sites
CURIOSIDADES DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
- Os soldados brasileiros (25.334)
foram para a Segunda Guerra Mundial em agosto de 1944, ao lado dos aliados,
para combater em território italiano. Morreram durante os combates 443
soldados brasileiros. Eles foram enterrados no cemitério da cidade de Pistoia,
na região da Toscana.
- Os soldados brasileiros
(pracinhas da FEB) que retornaram da Segunda Guerra Mundial, após o fim do
conflito, foram recebidos com muitas festas e homenagens. A avenida São João,
no centro de São Paulo, ficou repleta de pessoas que receberam estes soldados
como heróis. Até hoje, alguns veteranos de guerra participam dos desfiles de 7
de setembro e outros eventos cívicos.
- O intenso frio do inverno
soviético foi um dos principais inimigos dos alemães da Segunda Guerra. Com a
ajuda das baixas temperaturas (até -40ºC no inverno), os soviéticos impuseram a
maior derrota aos alemães durante a batalha de Stalingrado. Nestas baixas
temperaturas, muitos equipamentos de guerra alemães perderam a eficiência a
sequer funcionaram. Sem contar que muitos soldados alemães, sem uniformes
adequados, morreram de frio durante os combates.
- Quando ficavam sem alimentação
nos campos de batalha, muitos soldados se alimentavam de batata crua, retiradas
da terra.
- Durante a Segunda Guerra,
foram jogadas, sobre os países envolvidos, cerca de 3,5 milhões de toneladas de
bombas. Esse fato fez com que grande parte das mortes nesta guerra fosse de
civis (pessoas que não estavam envolvidas na guerra).
- Os Estados Unidos só entraram
na guerra quando, em 7 de dezembro de 1941, os japoneses atacaram a base
militar norte-americana de Pearl Harbor.
- O primeiro ataque dos alemães
a navios brasileiros ocorreu em 1941. O navio Taubaté, foi metralhado por
aviões de guerra alemães em pleno Mar Mediterrâneo.
- Nos últimos meses do conflito,
Hitler formou exércitos compostos por crianças e adolescentes, pois já não
havia mais soldados adultos. Era uma medida desesperada e cruel para
tentar evitar a eminente derrota nazista.
- Graças aos radares usados pelo
exército inglês, os alemães perderam milhares de aviões durante a tentativa de
bombardear a Inglaterra. Graças a estes equipamentos, Hitler desistiu de
invadir a Grã-Bretanha.
- A espionagem foi uma das armas
usadas na Segunda Guerra. Este recurso foi usado tanto pelos Aliados
quanto pelo Eixo. Uma das espiãs mais famosas foi a modelo holandesa Catharina
Koopman. Ela serviu de espiã para os aliados. Foi presa e enviada para um campo
de concentração nazista na Alemanha. Livrou-se, pois falava muito bem alemão e
fez se passar por enfermeira.
- As mensagens criptografadas foram
muito usadas pelos militares nesta guerra. Os aliados saíram na frente
neste campo, pois foram os primeiros a decodificar as mensagens enviadas pelos
nazistas.
- Para enganar as tropas
nazistas, os soldados norte-americanos, com ajuda de artistas plásticos,
chegaram a recorrer à confecção e uso de tanques de guerra infláveis. Falsas
transmissões de rádio, armas de borracha e efeitos sonoros foram outros
recursos fantasiosos para enganar os inimigos.
- Foi a primeira guerra
onde ocorre o uso de armas atômicas. As bombas nucleares jogadas pelos
Estados Unidos no Japão provocou a morte de milhares de pessoas. Só na cidade
de Hiroshima morreram 100 mil somente no momento da explosão. A bomba provocou
a destruição de quase 70% das construções da cidade.
- O Japão foi o último país do
Eixo a aceitar a rendição, fato ocorrido somente em 2 de setembro de
1945. Essa é a data oficial do fim da Segunda Guerra Mundial.
QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE A PRIMEIRA E A SEGUNDA
GUERRA MUNDIAL? Bruna
Nicolielo
A Segunda
Guerra Mundial (1939-1945) tem sido apresentada como uma espécie de continuação
da Primeira Grande Guerra (1914-1918). Alega-se que o Tratado de Versalhes, que
impôs uma situação de humilhação à Alemanha derrotada, seja o germe do segundo
conflito.No entanto, é preciso considerar que as duas guerras foram muito
diferentes. Ambas tiveram a Europa como ponto de partida, porém, enquanto a
Primeira se desenvolveu quase todo o tempo nesse continente, a Segunda teve a
Ásia, a Oceania, a África e até a América como protagonistas. O Brasil, por
exemplo, teve navios afundados por alemães e chegou a enviar tropas para
combater os nazistas.
A
Primeira foi o último grande conflito que se desenvolveu em campos de batalha.
Ela ficou famosa pelos confrontos de trincheiras, nas quais os generais
exortavam os jovens a se matarem mutuamente. Já na Segunda, a guerra chegou com
toda a intensidade até os civis. Milhões de russos perderam a vida no cerco de
Leningrado, Stalingrado e Moscou e em outras cidades soviéticas. Milhares de
ingleses, japoneses e alemães também morreram por ocasião dos bombardeios
adversários.A Segunda Guerra foi, ainda, um conflito de ideologias. O fascismo
italiano, o nazismo alemão e o comunismo da União Soviética apresentavam-se, na
ocasião, como alternativas às democracias dos Estados Unidos, da França e da
Inglaterra. Também marcou pelo procedimento adotado pelos nazistas: eles
confinaram e executaram milhões de civis inocentes, entre eles judeus, ciganos
e homossexuais. O fim do conflito provocou, de certa forma, a Guerra Fria, que
nunca eclodiu.
II Guerra Mundial -
Comparação Entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial
Fonte: Deborin, pág. 399
1914/18
1939/45
Estados em guerra
33
72
Nº de mobilizados
74.000.000
110.000.000
Nº de mortos
10.000.000
50.000.000
Nº de mutilados
20.000.000
28.000.000
Gastos militares
US$
208 bilhões
US$
935 bilhões
1914/18
1939/45
Estados em guerra
33
72
Nº de mobilizados
74.000.000
110.000.000
Nº de mortos
10.000.000
50.000.000
Nº de mutilados
20.000.000
28.000.000
Gastos militares
US$
208 bilhões
US$
935 bilhões
Historiador explica porque Hitler perdeu e quase ganhou a Segunda Guerra Mundial
Em “A Tempestade da Guerra”, Andrew Roberts dialoga com historiadores e refuta algumas de suas teses. Mostra que a Alemanha venceu a batalha durante bom período e que a invasão da União Soviética, apesar do equívoco em si, poderia ter dado resultados positivos]
Roberts começa com um balanço: “A Segunda Guerra durou 2.174 dias, custou US$ 1,5 trilhão e a vida de mais de 50 milhões de pessoas. Isso representa 23 mil vidas perdidas por mês, ou mais de seis pessoas mortas por minuto, durante seis longos anos”. Depois, discute a responsabilidade dos generais alemães e de seu chefe, Hitler, e, finalmente, as razões da derrota do nazismo.
O general Alfred Jodl, um dos preferidos de Hitler, disse, no julgamento de Nuremberg, em 1946, que os generais alemães não queriam a guerra e não confiavam no líder nazista. Roberts admite que a maioria do alto-comando não planejava guerrear contra a Inglaterra e a França em 1939, mas não se opuseram ao ataque à Polônia. Mas enganam-se aqueles que sugerem que tudo de criminoso deve ser atribuído apenas a Hitler. “Os ‘métodos’ permitidos pelos oficiais germânicos contra populações civis, em particular na Frente Oriental, foram bem piores do que as palavras enganosas de Jodl pretenderam expor e aqueles oficiais estavam, universal e profundamente, comprometidos com as monstruosas violações de todos os cânones que regem as regras da guerra, escritos ou não. (...) Cada um dos generais alemães sabia que o conflito no leste seria de aniquilação, e não um combate militar convencional. (...) Na essência, (...) as desculpas de Jodl não convenceram: os generais germânicos prestaram serviço ‘aos poderes do Inferno’ e a ‘um criminoso’.”
Na União Soviética, como registram Richard Overy, em “Os Ditadores — a Rússia de Stálin e a Alemanha de Hitler” (José Olympio, 840 páginas, tradução Marcos Santarrita), e Roberts, Stálin punia com ostracismo, prisão e morte os generais que discordavam de seu ponto de vista; na Alemanha, era diferente. “Mesmo os oficiais que alegaram oposição, e até desobediência, a Hitler não foram particularmente maltratados, a não ser, é claro, os envolvidos no atentado a bomba [contra o Führer]. Foram exonerados, readmitidos, passados à reserva por alguns meses, mas não enfrentaram a pena capital, como foi o caso de muitos que desagradaram Stálin. Em 21 de fevereiro de 1945, Albert Speer escreveu a Otto Thierack, o ministro nazista da Justiça, oferecendo-se para depor como testemunha de defesa do caráter do general Friedrich Froom, que mantivera ‘atitude passiva’ em relação ao atentado a bomba e não alertara as autoridades sobre ele. Era inconcebível que qualquer um, salvo potencial suicida, tomasse tal atitude na Rússia soviética. (...) Ninguém foi sentenciado por se recusar a matar judeus; os oficiais arriscavam suas carreiras, e não suas vidas, quando se opunham a Hitler em termos de princípios militares. (...) Eles podiam estar ‘apenas obedecendo ordens’, porém não o fizeram por bem fundamentado receio quanto às suas vidas”, frisa Roberts.
No julgamento de Nuremberg, com Hitler morto, portanto “culpado” principal, o que de fato era, os generais nazistas procuraram responsabilizá-lo por todos os erros e crimes. Mas, como nota Roberts, “permanece o fato de que nenhum dos líderes militares e civis solicitou espontaneamente exoneração, mesmo quando ficou evidente que a guerra seria perdida”.
Ao contrário do que disseram em Nuremberg ou em livros e entrevistas, “a esmagadora maioria” dos generais prestou “serviços” a Hitler “com extraordinária lealdade”. Roberts afirma que, “individualmente, os generais tinha bons motivos para levar o conflito até o fim: Manstein ordenara o massacre de civis; Rundstedt participara do Tribunal de Honra; Guderian aceitara de Hitler pagamentos em dinheiro vivo e uma suntuosa propriedade. (...) Tampouco eles podiam pleitear ignorância dos fatos”. Roberts cita David Cesarani: “Hitler regularmente informava seus seguidores no partido, ministros e generais a respeito dos objetivos raciais que tinha em mente. Ocasionalmente, alguns faziam objeções [...] mas a maioria cooperava”. O historiador inglês conclui: “Os generais germânicos foram, em sua maior parte, corruptos, moralmente degradantes, oportunistas e muito distantes dos cavaleiros não ideológicos pelos quais gostavam de se passar”.
O general Alfred Jodl, um dos preferidos de Hitler, disse, no julgamento de Nuremberg, em 1946, que os generais alemães não queriam a guerra e não confiavam no líder nazista. Roberts admite que a maioria do alto-comando não planejava guerrear contra a Inglaterra e a França em 1939, mas não se opuseram ao ataque à Polônia. Mas enganam-se aqueles que sugerem que tudo de criminoso deve ser atribuído apenas a Hitler. “Os ‘métodos’ permitidos pelos oficiais germânicos contra populações civis, em particular na Frente Oriental, foram bem piores do que as palavras enganosas de Jodl pretenderam expor e aqueles oficiais estavam, universal e profundamente, comprometidos com as monstruosas violações de todos os cânones que regem as regras da guerra, escritos ou não. (...) Cada um dos generais alemães sabia que o conflito no leste seria de aniquilação, e não um combate militar convencional. (...) Na essência, (...) as desculpas de Jodl não convenceram: os generais germânicos prestaram serviço ‘aos poderes do Inferno’ e a ‘um criminoso’.”
Na União Soviética, como registram Richard Overy, em “Os Ditadores — a Rússia de Stálin e a Alemanha de Hitler” (José Olympio, 840 páginas, tradução Marcos Santarrita), e Roberts, Stálin punia com ostracismo, prisão e morte os generais que discordavam de seu ponto de vista; na Alemanha, era diferente. “Mesmo os oficiais que alegaram oposição, e até desobediência, a Hitler não foram particularmente maltratados, a não ser, é claro, os envolvidos no atentado a bomba [contra o Führer]. Foram exonerados, readmitidos, passados à reserva por alguns meses, mas não enfrentaram a pena capital, como foi o caso de muitos que desagradaram Stálin. Em 21 de fevereiro de 1945, Albert Speer escreveu a Otto Thierack, o ministro nazista da Justiça, oferecendo-se para depor como testemunha de defesa do caráter do general Friedrich Froom, que mantivera ‘atitude passiva’ em relação ao atentado a bomba e não alertara as autoridades sobre ele. Era inconcebível que qualquer um, salvo potencial suicida, tomasse tal atitude na Rússia soviética. (...) Ninguém foi sentenciado por se recusar a matar judeus; os oficiais arriscavam suas carreiras, e não suas vidas, quando se opunham a Hitler em termos de princípios militares. (...) Eles podiam estar ‘apenas obedecendo ordens’, porém não o fizeram por bem fundamentado receio quanto às suas vidas”, frisa Roberts.
No julgamento de Nuremberg, com Hitler morto, portanto “culpado” principal, o que de fato era, os generais nazistas procuraram responsabilizá-lo por todos os erros e crimes. Mas, como nota Roberts, “permanece o fato de que nenhum dos líderes militares e civis solicitou espontaneamente exoneração, mesmo quando ficou evidente que a guerra seria perdida”.
Ao contrário do que disseram em Nuremberg ou em livros e entrevistas, “a esmagadora maioria” dos generais prestou “serviços” a Hitler “com extraordinária lealdade”. Roberts afirma que, “individualmente, os generais tinha bons motivos para levar o conflito até o fim: Manstein ordenara o massacre de civis; Rundstedt participara do Tribunal de Honra; Guderian aceitara de Hitler pagamentos em dinheiro vivo e uma suntuosa propriedade. (...) Tampouco eles podiam pleitear ignorância dos fatos”. Roberts cita David Cesarani: “Hitler regularmente informava seus seguidores no partido, ministros e generais a respeito dos objetivos raciais que tinha em mente. Ocasionalmente, alguns faziam objeções [...] mas a maioria cooperava”. O historiador inglês conclui: “Os generais germânicos foram, em sua maior parte, corruptos, moralmente degradantes, oportunistas e muito distantes dos cavaleiros não ideológicos pelos quais gostavam de se passar”.
Primeiro grande erro
Hitler e seus generais pretendiam começar a guerra, se não tivessem encontrado obstáculos à busca do que chamavam de “espaço vital”, apenas em 1942 ou 1943, quando estariam militarmente mais preparados. O registro de Roberts: “Se o conflito tivesse começado com a mesma quantidade de U-boats [submarinos] que a Alemanha possuía quando ele terminou — 463 — e não com os 26 operacionais de que dispunha em 1939, teria havido a possibilidade de asfixiar a Inglaterra, em especial se fossem concentrados esforços para a fabricação, com a maior brevidade possível, dos submarinos Walther (com propulsão a peróxido de hidrogênio e armados com torpedos guiados) e do dispositivo Schnorchel”.
Roberts acrescenta: “Se as fábricas da Luftwaffe tivessem sido afastadas dos grandes centros industriais, ou se houvesse começado mais cedo a produção em grande escala do Messerschmitt Me-262, caça a jato capaz de derrubar os Mustangs norte-americanos que se aventurassem sobre os céus da Alemanha, talvez o resultado da guerra áerea fosse diferente”.
Hitler cometeu erros, como suspender, em novembro de 1939, “o programa de desenvolvimento das bombas ‘V’ por acreditar que a vitória na Polônia demonstrara sua desnecessidade. Ele foi reativado em setembro de 1941, porém só recebeu alta prioridade em julho de 1943”.
A retirada inglesa em Dunquerque foi uma vitória alemã, mas, se Hitler tivesse sido ousado, poderia ter sido uma vitória ainda mais acachapante. Roberts avalia que, “em maio de 1940, Hitler deveria ter dado apoio aos generais que desejaram contrariar a Ordem do Alto Comando dada por Rundstedt antes de atingir Dunquerque, visto que a continuação do avanço teria significado a captura do grosso da Força Expedicionária Britânica e evitaria sua escapada do continente”. Göring, mesmo fracassando em Dunquerque, não foi substituído. “Sua fidelidade como nazista era mais importante para Hitler do que sua competência como comandante da força” (a aeronáutica).
A invasão da União Soviética, tratada erradamente tão-somente como invasão da Rússia pela tradução brasileira, foi o “erro fundamental” de Hitler na guerra. Primeiro, porque os comunistas eram aliados dos nazistas e haviam assinado um pacto de não-agressão. Segundo, os alemães tiveram de lutar em duas frentes, quando poderiam ter eliminado primeiro a Inglaterra e, depois, atacado os bolcheviques. Com “uma fração da força que foi lançada contra a Rússia”, os alemães poderiam “ter expelido bem antes os ingleses do Cairo, Palestina, Irã e Iraque. A conquista do Cairo teria aberto quatro excelentes perspectivas, a saber: a posses com relativa facilidade dos quase indefesos campos petrolíferos do Irã e do Iraque; a expulsão da Marinha Real de sua importante base de Alexandria, no Mediterrâneo; a interrupção do tráfego marítimo dos Aliados através do Canal de Suez; e a possibilidade de atacar a Índia pelo noroeste exatamente quando o Japão a ameaçava pelo nordeste. Bem posicionados no Oriente Médio, os germânicos teriam cortado o suprimento de petróleo inglês e representado perigo pelo oeste para a Índia britânica, como também para a União Soviética e para o Cáucaso, pelo sul. Mesmo que a Inglaterra continuasse combatendo a partir das ilhas do Reino Unido, do Canadá e da Índia, mediante a importação de petróleo dos Estados Unidos, não mais existiria ameaça britânica ao flanco sul da Alemanha”.
A análise de Roberts é instigante porque, apesar de apontar o erro essencial da Operação Barbarossa, afirma que Hitler poderia ter derrotado os soviéticos. Além dos erros apontados acima, houve outros: “O Grupo de Exércitos do Sul deveria ter conquistado o Cáucaso pelo sul, e não pelo oeste. Avançando entre o mar Negro e o mar Cáspio, a invasão germânica no Cáucaso e no sul da Rússia teria privado a URSS da maior parte de seu suprimento de petróleo não siberiano”.
“Foi sorte incrível para os Aliados”, afirma Roberts, “que o Eixo jamais tivesse coordenado seus esforços de guerra e falhasse até na troca de informações sobre equipamentos básicos”. O historiador avalia que, “se tivesse havido coordenação militar entre Berlim, Roma e Tóquio, os nipônicos não teria atacado os norte-americanos, e sim os russos, tão logo a Alemanha ficasse pronta para a invasão. O petróleo de que tanto o Japão precisava teria vindo da Sibéria em vez de ser conseguido nas Índias Orientais Holandesas. Contudo, Hitler não mostrou o menor interesse em que o Japão participasse da Barbarossa e os líderes desse último nem o informaram sobre o iminente ataque a Pearl Harbor; da mesma forma que Mussolini não alertou Hitler sobre o ataque à Grécia, tampouco o Führer falou ao Duce sobre a invasão da Iugoslávia”.
Hitler e seus generais pretendiam começar a guerra, se não tivessem encontrado obstáculos à busca do que chamavam de “espaço vital”, apenas em 1942 ou 1943, quando estariam militarmente mais preparados. O registro de Roberts: “Se o conflito tivesse começado com a mesma quantidade de U-boats [submarinos] que a Alemanha possuía quando ele terminou — 463 — e não com os 26 operacionais de que dispunha em 1939, teria havido a possibilidade de asfixiar a Inglaterra, em especial se fossem concentrados esforços para a fabricação, com a maior brevidade possível, dos submarinos Walther (com propulsão a peróxido de hidrogênio e armados com torpedos guiados) e do dispositivo Schnorchel”.
Roberts acrescenta: “Se as fábricas da Luftwaffe tivessem sido afastadas dos grandes centros industriais, ou se houvesse começado mais cedo a produção em grande escala do Messerschmitt Me-262, caça a jato capaz de derrubar os Mustangs norte-americanos que se aventurassem sobre os céus da Alemanha, talvez o resultado da guerra áerea fosse diferente”.
Hitler cometeu erros, como suspender, em novembro de 1939, “o programa de desenvolvimento das bombas ‘V’ por acreditar que a vitória na Polônia demonstrara sua desnecessidade. Ele foi reativado em setembro de 1941, porém só recebeu alta prioridade em julho de 1943”.
A retirada inglesa em Dunquerque foi uma vitória alemã, mas, se Hitler tivesse sido ousado, poderia ter sido uma vitória ainda mais acachapante. Roberts avalia que, “em maio de 1940, Hitler deveria ter dado apoio aos generais que desejaram contrariar a Ordem do Alto Comando dada por Rundstedt antes de atingir Dunquerque, visto que a continuação do avanço teria significado a captura do grosso da Força Expedicionária Britânica e evitaria sua escapada do continente”. Göring, mesmo fracassando em Dunquerque, não foi substituído. “Sua fidelidade como nazista era mais importante para Hitler do que sua competência como comandante da força” (a aeronáutica).
A invasão da União Soviética, tratada erradamente tão-somente como invasão da Rússia pela tradução brasileira, foi o “erro fundamental” de Hitler na guerra. Primeiro, porque os comunistas eram aliados dos nazistas e haviam assinado um pacto de não-agressão. Segundo, os alemães tiveram de lutar em duas frentes, quando poderiam ter eliminado primeiro a Inglaterra e, depois, atacado os bolcheviques. Com “uma fração da força que foi lançada contra a Rússia”, os alemães poderiam “ter expelido bem antes os ingleses do Cairo, Palestina, Irã e Iraque. A conquista do Cairo teria aberto quatro excelentes perspectivas, a saber: a posses com relativa facilidade dos quase indefesos campos petrolíferos do Irã e do Iraque; a expulsão da Marinha Real de sua importante base de Alexandria, no Mediterrâneo; a interrupção do tráfego marítimo dos Aliados através do Canal de Suez; e a possibilidade de atacar a Índia pelo noroeste exatamente quando o Japão a ameaçava pelo nordeste. Bem posicionados no Oriente Médio, os germânicos teriam cortado o suprimento de petróleo inglês e representado perigo pelo oeste para a Índia britânica, como também para a União Soviética e para o Cáucaso, pelo sul. Mesmo que a Inglaterra continuasse combatendo a partir das ilhas do Reino Unido, do Canadá e da Índia, mediante a importação de petróleo dos Estados Unidos, não mais existiria ameaça britânica ao flanco sul da Alemanha”.
A análise de Roberts é instigante porque, apesar de apontar o erro essencial da Operação Barbarossa, afirma que Hitler poderia ter derrotado os soviéticos. Além dos erros apontados acima, houve outros: “O Grupo de Exércitos do Sul deveria ter conquistado o Cáucaso pelo sul, e não pelo oeste. Avançando entre o mar Negro e o mar Cáspio, a invasão germânica no Cáucaso e no sul da Rússia teria privado a URSS da maior parte de seu suprimento de petróleo não siberiano”.
“Foi sorte incrível para os Aliados”, afirma Roberts, “que o Eixo jamais tivesse coordenado seus esforços de guerra e falhasse até na troca de informações sobre equipamentos básicos”. O historiador avalia que, “se tivesse havido coordenação militar entre Berlim, Roma e Tóquio, os nipônicos não teria atacado os norte-americanos, e sim os russos, tão logo a Alemanha ficasse pronta para a invasão. O petróleo de que tanto o Japão precisava teria vindo da Sibéria em vez de ser conseguido nas Índias Orientais Holandesas. Contudo, Hitler não mostrou o menor interesse em que o Japão participasse da Barbarossa e os líderes desse último nem o informaram sobre o iminente ataque a Pearl Harbor; da mesma forma que Mussolini não alertou Hitler sobre o ataque à Grécia, tampouco o Führer falou ao Duce sobre a invasão da Iugoslávia”.
Segundo grande erro
O segundo grande erro de Hitler foi declarar guerra aos Estados Unidos. Roberts avalia que, se a Alemanha não tivesse declarado guerra aos americanos, “teria sido quase impossível que Roosevelt comprometesse os Estados Unidos com a invasão do norte da África, em 1942. Em vez disso e sem qualquer necessidade, o Führer declarou guerra aos Estados Unidos”. O erro foi cometido “apenas seis meses depois do primeiro”.
Numa análise tão curiosa quanto perspicaz, Roberts diz que “mandava o bom senso que o Führer denunciasse o Pacto Tripartite [Alemanha-Itália-Japão], que até então pouco o ajudara, após Pearl Harbor e que exonerasse Ribbentrop. As avaliações do ministro do Exterior sobre “as possibilidades e intenções dos Estados Unidos” foram “grotescas”.
O Lebensraum (a política de conquista e ampliação do espaço vital) e a limpeza étnica foi outros grandes erros de Hitler. “Se tivesse dado ao Lebensraum e à limpeza étnica baixa prioridade em sua agenda — a serem consumados depois da vitória —, os alemães poderiam ter se esforçado para transformar em aliados contra os bolcheviques opressores os povos subjugados pela Grande Rússia, permitindo à Ucrânia, Bielorrússia, Estados Bálticos, Crimeia e repúblicas caucasianas o mais amplo grau possível de autonomia.”
Outro equívoco de Hitler era não saber recuar. Se tivesse seguido o conselho preciso de alguns generais — pelo contrário, exonerava “aqueles que se dispunham” a orientá-lo “honestamente” —, teria recuado, pelo menos algumas vezes, e preservado tropas de excelente qualidade. Mas preferia continuar avançando, mesmo com alto custo de vidas. O cerco a Stalingrado foi caro em termos de dinheiro, armamentos e vidas humanas e um equívoco geopolítico. A cidade não tinha importância estratégica nem para Hitler nem para Stálin. Conquistar Moscou teria sido mais estratégico. “Além das sérias implicações para o moral russo, a queda de Moscou teria prejudicado sensivelmente a capacidade soviética de concentrar suas reservas e de suprir outras cidades na região. As distâncias, os transportes (infernizados pelos partisans), a logística, a lama, a neve e a mobilização — ainda que com monstruoso desperdício — de impressionantes contingentes humanos foram as razões para o fracasso germânico. Mesmo assim, se Fedor von Bock tivesse sido autorizado a continuar o avanço de seu Grupo de Exércitos do Centro, no início de agosto de 1941, vigorosamente e com sua força completa, na direção da capital soviética, todos aqueles obstáculos poderiam ter sido ultrapassados.”
Uma das armas de Hitler era a surpresa, mas, com a guerra, foi acomodando-se. “Entre março e julho de 1943, adiou a Operação Zitadelle do ataque a Kursk por cem dias. (...) A total falta da surpresa foi desastrosa.” Quando atacaram, numa batalha sangrenta, os russos já estavam preparados.
Hitler apreciava ter informações precisas sobre as ações de seus adversários, mas, na Normandia, em 1944, foi enganado tanto pelos aliados — sugeriram ataque num lugar e atacaram em outro — quanto pelos equívocos de seus generais. Ele próprio errou. “A solução de meio-termo que encontrou para o desejo de Rundstedt de empregar suas forças no interior e o de Rommel de combater nas praias foi o pior dos dois mundos, ao mesclar a reação e separar irreparavelmente os comandos.
O segundo grande erro de Hitler foi declarar guerra aos Estados Unidos. Roberts avalia que, se a Alemanha não tivesse declarado guerra aos americanos, “teria sido quase impossível que Roosevelt comprometesse os Estados Unidos com a invasão do norte da África, em 1942. Em vez disso e sem qualquer necessidade, o Führer declarou guerra aos Estados Unidos”. O erro foi cometido “apenas seis meses depois do primeiro”.
Numa análise tão curiosa quanto perspicaz, Roberts diz que “mandava o bom senso que o Führer denunciasse o Pacto Tripartite [Alemanha-Itália-Japão], que até então pouco o ajudara, após Pearl Harbor e que exonerasse Ribbentrop. As avaliações do ministro do Exterior sobre “as possibilidades e intenções dos Estados Unidos” foram “grotescas”.
O Lebensraum (a política de conquista e ampliação do espaço vital) e a limpeza étnica foi outros grandes erros de Hitler. “Se tivesse dado ao Lebensraum e à limpeza étnica baixa prioridade em sua agenda — a serem consumados depois da vitória —, os alemães poderiam ter se esforçado para transformar em aliados contra os bolcheviques opressores os povos subjugados pela Grande Rússia, permitindo à Ucrânia, Bielorrússia, Estados Bálticos, Crimeia e repúblicas caucasianas o mais amplo grau possível de autonomia.”
Outro equívoco de Hitler era não saber recuar. Se tivesse seguido o conselho preciso de alguns generais — pelo contrário, exonerava “aqueles que se dispunham” a orientá-lo “honestamente” —, teria recuado, pelo menos algumas vezes, e preservado tropas de excelente qualidade. Mas preferia continuar avançando, mesmo com alto custo de vidas. O cerco a Stalingrado foi caro em termos de dinheiro, armamentos e vidas humanas e um equívoco geopolítico. A cidade não tinha importância estratégica nem para Hitler nem para Stálin. Conquistar Moscou teria sido mais estratégico. “Além das sérias implicações para o moral russo, a queda de Moscou teria prejudicado sensivelmente a capacidade soviética de concentrar suas reservas e de suprir outras cidades na região. As distâncias, os transportes (infernizados pelos partisans), a logística, a lama, a neve e a mobilização — ainda que com monstruoso desperdício — de impressionantes contingentes humanos foram as razões para o fracasso germânico. Mesmo assim, se Fedor von Bock tivesse sido autorizado a continuar o avanço de seu Grupo de Exércitos do Centro, no início de agosto de 1941, vigorosamente e com sua força completa, na direção da capital soviética, todos aqueles obstáculos poderiam ter sido ultrapassados.”
Uma das armas de Hitler era a surpresa, mas, com a guerra, foi acomodando-se. “Entre março e julho de 1943, adiou a Operação Zitadelle do ataque a Kursk por cem dias. (...) A total falta da surpresa foi desastrosa.” Quando atacaram, numa batalha sangrenta, os russos já estavam preparados.
Hitler apreciava ter informações precisas sobre as ações de seus adversários, mas, na Normandia, em 1944, foi enganado tanto pelos aliados — sugeriram ataque num lugar e atacaram em outro — quanto pelos equívocos de seus generais. Ele próprio errou. “A solução de meio-termo que encontrou para o desejo de Rundstedt de empregar suas forças no interior e o de Rommel de combater nas praias foi o pior dos dois mundos, ao mesclar a reação e separar irreparavelmente os comandos.
II Guerra Mundial - INFOGRÁFICO
Infográfico bem interessante sobre a II Guerra do site ClickrbsLink para acessar: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/swf/especial_segunda_guerra/index.html
Dica para a sessão pipoca em casa....
• Hitler, A Trajetória do Demônio, de Christian Duguay, com Com Robert Carlyle, Stockard Channing
• A Queda - Os Últimos Horas de Hitler, de Oliver Hirschbiegel, com Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara.
• Arquitetura da Destruição, de Peter Cohen
• O Grande Ditador, de Charles Chaplin
• Warm Springs, sobre Franklin Delano Roosevelt, de Joseph Sargent
• The Desert Fox: The Story of Rommel (1951), com James Mason
• O Discurso do Rei, sobre o Rei George VI, com Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham Carter
• Batalhas e eventos importantes
• Patton, de Frank J. Schaffner, com George Scott
• Stalingrado, a batalha final
• Império do Sol, de Steven Spielberg
• Bem-vindos ao Paraíso, de Alan Parker, com Dennis Quaid e Tamlyn Tomita
• A Lista de Schindler, de Steven Spielberg
• O Paciente Inglês, de Anthony Minghela
• Soldado Laranja, com Rutger Hauer
• O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg, com Tom Hanks e Matt Damon
• Além da Linha Vermelha, com Woody Harrelson
• Tobruk
• The Desert Rats (1953), com Richard Burton
• A balada de Narayama
• Círculo de fogo
• Midway
• Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino
• Uma ponte longe demais
• Tora tora tora
• A ponte do rio kwai
• 971 - A Batalha do Atlântico
• Os canhões de Navarone
• O mais longo dos dias , com John Wayne
• A Vida é Bela, com Roberto Benigni
• The Big Red One, com Samuel Fuller
• O Pianista
• Pearl Harbor . O filme relata o ataque japonês a base militar norte-americana em Pearl Harbor no dia 7 de dezembro de 1941.
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Legenda: Instrutores norte-americanos ensinando os soldados da Força Expedicionária Brasileira o uso correto de um M1A1 Bazooka. A ação acontece na Itália
Mais indicações em: http://neinordin.com.br/35-filmes-sobre-a-segunda-guerra-mundial/
Fotos do Holocausto: http://www.historiadigital.org/curiosidades/25-fotos-historicas-raras-do-holocausto/
REPORTAGEM ABAIXO É DA REVISTA AVENTURAS NA HISTÓRIA
Há 73 anos, brasileiros davam seu primeiro tiro na Segunda Guerra
Na campanha da Itália, brasileiros foram testados no inferno gelado
André Bernardo
Quando o navio americano USS General W.A. Mann partiu do porto do Rio de Janeiro em 2 de julho de 1944, as tropas expedicionárias brasileiras não faziam ideia do que iam encontrar do outro lado do Atlântico. Ao chegarem a Nápoles, no litoral sul da Itália, 14 dias depois, os 5 mil homens que integravam o 1º Escalão da Divisão de Infantaria Expedicionária se depararam com um país dividido: ao sul, as forças aliadas; ao norte, as tropas alemãs e o que restava de apoiadores a Mussolini. Já no desembarque, se deram conta do que esperava por eles. O porto estava tomado de carcaças de embarcações abatidas.
Os combatentes / Reprodução
Natural de Caçapava (SP), cidade a 109 km da capital, o sargento Gilberto Luiz Quinsan, e o irmão, Hildo, estavam entre os 5 mil soldados que desembarcaram em Nápoles naquele dia. “Se pudesse, esqueceria os meses que passei lá. Riscaria aquele inferno da minha mente”, confessou à AH o ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que integrava o 6º Regimento de Infantaria. “Guerra é uma estupidez sem tamanho: você não pode acender uma luz, fumar um cigarro ou fazer uma refeição porque não sabe se o inimigo está de olho em você.”
Sob o comando do general Zenóbio da Costa, aquele seria o primeiro dos cinco escalões enviados à Itália para lutar na Segunda Guerra. Ao todo, 25.334 expedicionários – 15.265 deles combatentes propriamente ditos – participaram do maior confronto militar do século 20. Na Campanha da Itália, os soldados da FEB, incorporados ao 5º Exército dos EUA, comandado pelo general Mark Clark, participaram de batalhas decisivas, como a conquista de Monte Castelo, Castelnuovo e Montese.
Adversários naturais
Assim que pisaram na Itália, os soldados brasileiros descobriram que os alemães não seriam o único inimigo a ser combatido. Os Exércitos germânicos recuaram até os Montes Apeninos, onde estabeleceram sólidas linhas de defesa. Do alto da cordilheira italiana, tinham posição privilegiada para atirar em quem ousasse se aproximar de suas posições. “O terreno montanhoso favorecia a defesa e exigia uma superioridade numérica mínima de três para um da parte dos atacantes”, afirma Dennison de Oliveira, autor dos livros Os Soldados Brasileiros de Hitler e Os Soldados Alemães de Vargas.
Combatente da FEB na Itália / Reprodução
Como se não bastasse a geografia acidentada, os pracinhas brasileiros também enfrentaram um dos invernos mais rigorosos do século naquela região da Itália. Por diversas vezes, a temperatura chegou a 20 graus abaixo de zero. “As condições climáticas desfavoráveis impunham enorme sacrifício e desgaste à tropa, que tinha que se deslocar e combater o inimigo sob forte chuva e intenso nevoeiro. Se o clima hostial inviabilizava o uso de aeronaves, o terreno acidentado anulava o emprego de tanques e blindados”, diz Dennison.
Na opinião dos historiadores, o treinamento das forças expedicionárias foi precário e insuficiente. Não levava em consideração nem o terreno montanhoso do teatro de operações, nem as condições climáticas do inverno italiano. Na maior parte das vezes, o combatente brasileiro foi mandado para a linha de frente sem ter a menor noção de como manusear um fuzil, desarmar uma armadilha ou invadir uma casamata.
“O pior inimigo da FEB na Segunda Guerra Mundial, além do soldado alemão, é claro, foi seu treinamento deficiente no Brasil”, diz Francisco César Ferraz, doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL). “Dos três primeiros escalões, apenas o primeiro, formado pelo 6º Regimento de Infantaria, teve algum tipo de treinamento mais satisfatório. Algumas unidades foram encaminhadas para a ação sem terem disparado um único tiro com os armamentos norte-americanos.”
Na linha inimiga
Durante as patrulhas, o risco de morte era iminente. Muitas vezes observados pelo inimigo, os pracinhas estavam expostos a minas e armadilhas escondidas em casas, móveis, objetos e até em cadáveres de soldados. “Logo que chegamos, perdi um primo, Abílio Fernandes. O coitado pisou numa mina terrestre e voou pelos ares”, afirmou em entrevista à AH Antônio Fernandes das Neves, do 6º R.I. “Certo dia, uma granada caiu bem do meu lado na trincheira. Graças a Deus, não explodiu. Se tivesse explodido, não estaria aqui hoje para contar a história.”
Ao contrário do que se possa imaginar, a troca de tiros de fuzil e metralhadora não era prática recorrente na Itália. “Os dois lados evitavam ao máximo abrir fogo contra o inimigo”, lembrou o cabo Naldo Caparica, que integrava o Serviço Especial da FEB e editava o jornal Zé Carioca, muito popular entre os soldados. “Na calada da noite, você ouvia um barulhinho qualquer mas não sabia identificar a origem. O pior é que você também não podia atirar à toa. Se errasse o alvo, denunciava sua posição para o inimigo.”
De posse das informações obtidas pelas equipes de patrulha, os comandantes preparavam os ataques. Se os inimigos se rendessem ou recuassem, o ataque poderia ser considerado bem-sucedido. Então, as tropas ocupavam o território recém-conquistado e já se preparavam para defendê-lo de um eventual contra-ataque. Se a ofensiva fosse malsucedida, as tropas atacantes deveriam recuar, socorrer os feridos, contabilizar as baixas, recompor as unidades e planejar uma nova investida.
Dormir em pé
Entre patrulhas e missões, os expedicionários se acomodavam como podiam em casas, celeiros e estábulos abandonados. “Na Itália, aprendi a cochilar de pé. Dormir era praticamente impossível. Um minuto de desatenção podia ser fatal”, confessou à AH o soldado Artur Mariano dos Santos, do 6º R.I. “Os alemães não davam folga. Esperavam a gente dormir para atacar. No início, você se assusta com o barulho das bombas e dos morteiros. Mas, depois de alguns dias, se acostuma”, afirma o veterano, que perdeu parte da audição no campo de batalha.
Na maioria das vezes, os expedicionários da FEB cavavam trincheiras no chão, que os americanos apelidaram de foxholes (“buracos de raposa”). “Muitos soldados desenvolveram problemas de saúde em função das condições insalubres dessesfoxholes, principalmente o ‘pé de trincheira’, uma espécie de gangrena causada pela falta de circulação”, afirma Cesar Campiani Maximiliano, doutor em História pela USP e pesquisador do Núcleo de Estudos de Política, História e Cultura da PUC-SP.
Tomar banho, dormir em colchão ou comer algo menos indigesto que as rações de combate eram privilégios que os soldados não tinham na linha de frente. Muito pelo contrário. Tiveram que enfrentar dificuldades típicas de uma guerra, como falta das condições mais básicas de higiene, privação de sono por meses a fio e exposição a frio insuportável. Os combatentes tentavam atenuar os efeitos do frio da maneira que podiam. Uns colocavam palha e jornal dentro das galochas para manter os pés aquecidos. Outros dormiam com o cantil entre as pernas para que a água não congelasse.
Direto do front
Em patrulha no norte da Itália / Wikimedia Commons
Os expedicionários tiveram seu tão esperado batismo de fogo no dia 16 de setembro de 1944. Nesse dia, um batalhão do 6º Regimento de Infantaria tomou a cidade de Massarossa, importante entrocamento ferroviário na região da Toscana. “A missão foi confiada a um destacamento do 1º Escalão da FEB, que teve um treinamento relativamente rápido e incompleto, mas foi cumprida. Pela primeira vez, os soldados brasileiros receberam tiros de artilharia, se depararam com campos minados e tiveram contato com patrulhas inimigas”, afirma Francisco César Ferraz, autor do livro Os Brasileiros e a Segunda Guerra Mundial.
Para Maximiano, o verdadeiro batismo de fogo das tropas brasileiras só aconteceu 45 dias depois, mais exatamente em 31 de outubro, no ataque a Castelnuovo di Garfagnana, no vale do Rio Serchio. “O ataque foi bem-sucedido na fase inicial. Mas, antes que as tropas brasileiras, cansadas pelo combate, conseguissem assumir o controle do território, sofreu inesperado contra-ataque. Como os alemães tinham tropas de reserva naquela região, eles puderam organizar muito rapidamente uma forte reação”, descreve.
O autor dos livros Onde Estão Nossos Heróis?, Irmãos de Armas e Barbudos, Sujos e Fatigados, Maximiano pondera que a ação em Castelnuovo pode ser considerada o primeiro grande ataque da FEB na Segunda Guerra porque empregou um batalhão de aproximadamente 900 homens. “Em geral, o batismo de foto das unidades de Infantaria era feito gradualmente nos setores mais calmos do front para aclimatar os combatentes. Camaiore e Monte Prana, entre outras operações, foram meras ações de patrulha, coisa de pouquíssimos homens”, compara.
Para Ferraz, o revés da FEB em Castelnuovo di Garfagnana pode ser atribuído ao excesso de confiança das tropas brasileiras, somado à inexperiência em preparar-se para um eventual contra-ataque inimigo: “Esse trecho da linha de frente era muito extenso (12 km) e foi mantido pelos alemães por mais cinco meses. Os norte-americanos também não tiveram sucesso”.
Na opinião de Dennison de Oliveira, o ataque a Castelnuovo pode ser descrito como “um dos mais intensos e ferozes” na Campanha da Itália. “Quando chegamos lá, os alemães já estavam enfraquecidos. Caso contrário, não teria sobrado um brasileiro sequer para contar história. Mesmo assim, lutaram até o fim”, disse à AH o cabo Cleir de Carvalho, do 6º Regimento de Infantaria.
Sete meses e 19 dias depois da tomada de Massarossa, os expedicionários puderam, finalmente, comemorar o fim da guerra. No dia 2 de maio de 1945, as tropas alemãs que combatiam na Itália anunciaram sua rendição. Segundo Francisco César Ferraz, o desempenho da FEB pode ser comparado ao das melhores unidades aliadas envolvidas no front italiano. “Tropas novatas costumam cometer erros estúpidos, e os expedicionários brasileiros tiveram que aprender com seus reveses. Seu aprendizado, rápido, foi no próprio combate e, dentro das limitações próprias de uma divisão do Exército, eu diria que eles se saíram bem”, avalia o historiador.